
em 17/05/2010 às 20:15
Presidente regional do PR, o ex-secretário de Ciência e Tecnologia do GDF, Izalci Lucas, sempre foi aliado do ex-governador José Roberto Arruda. Esta semana, porém, seu partido, puxado pelo deputado federal Jofran Frejat e pela cúpula nacional, anunciou uma aliança com o ex-adversário Joaquim Roriz (PSC) para as eleições de outubro. O PR terá o vice na chapa de Roriz, na pessoa de Frejat. Para Izalci, a aliança com Roriz será a saída para os partidos que antes compunham a base do governo Arruda. “O natural seria formamos uma terceira via, mas isso deveria ter sido feito antes. Agora não dá mais tempo. Esta eleição será polarizada novamente”, avalia. Em entrevista ao jornal o Distrital desta semana, Izalci fala da aliança com Roriz e detalha também os altos e baixos vividos pelo PR durante a campanha de Wilson Lima para governador, na eleição indireta realizada pela Câmara em abril. Confira a seguir principais trechos da entrevista. A reportagem completa está aqui.
O PR, assediado por diversos partidos, inclusive pelo PT, acabou de formalizar uma aliança com o PSC do ex-governador Joaquim Roriz para as eleições deste ano. Por que a escolha por Roriz?
Izalci Lucas - O PT chegou mesmo a nos convidar. Convidar a mim e convidar também o deputado Jofran Frejat. O (deputado federal Geraldo) Magela esteve lá em casa duas vezes. Eu fui a um evento em Brazlândia e o Agnelo (Queiroz, pré-candidato do PT ao GDF) esteve lá com Magela. Daí Agnelo me falou: “Izalci, precisamos conversar, vamos conversar esta semana”. Eu concordei. Mas a conversa nunca foi marcada.
Já o deputado Jofran Frejat havia sido convidado oficialmente pelo Roriz (para ser candidato a vice em sua chapa majoritária), e ele conduziu o processo de forma muito elegante, sempre deixando claro que a palavra final seria do partido.
É evidente que também fizemos uma avaliação com a nacional sobre isso. E chegamos à conclusão de que, neste momento, o melhor seria realmente apoiar o Jofran Frejat para vice. Depois disso, conversamos com Roriz, que nos passou a informação de que já estava conversando com outros partidos também. Emissários do Roriz já tinham conversado com o DEM, com o PSDB. Dissemos a ele que a nacional já havia liberado a aliança. Eu também conversei com os deputados do partido, com os pré-candidatos, e não houve resistências. Então a aliança ficou praticamente acertada, precisando apenas ser referendada pela reunião da executiva do partido, que seria na semana seguinte (na terça-feira, 11).
Mas a conversa que tivemos com Roriz vazou e, no dia seguinte, o presidente do PT-DF, Roberto Policarpo, que nunca me atendia ou retornava minhas ligações, me telefonou. À tarde, ele e Agnelo vieram ao meu escritório. Queriam fechar uma aliança com o PR ou, ao menos, que nós adiássemos a aliança com Roriz. Eu disse a eles: “tarde demais, já apertei a mão do homem”. Não ia mais voltar atrás.
Além de ter Frejat como vice, o que mais o PR ganha com esta aliança?
Izalci – Força na disputa proporcional. Queremos fazer um chapão, pelo menos para deputado federal (cargo para o qual Izalci vai disputar a eleição novamente). A tendência é que os demais partidos acabem se coligando em uma ampla aliança com Roriz. E essa aliança se repetirá na disputa proporcional. A intenção é trabalhar (a tucana Maria de Lourdes) Abadia para o Senado, se se confirmar a aliança com PSDB. Também o (deputado federal Alberto) Fraga para o Senado, se o DEM entrar na aliança. Essa é a expectativa.
Outro que tem interesse em disputar a chapa pelo Senado é o (também deputado federal Robson) Rodovalho, pelo PP. Então eu acho que, reunindo esses partidos (PSC, PMN, PR e PSDB, PP e DEM), é possível eleger até quatro deputados federais. E o desenho é que esses partidos acabem mesmo fechando com Roriz. E, se isso acontecer, melhora muito, mais do que eleger quatro federais, eu acho que será possível ganharmos já no primeiro turno.
Mas o senhor acha que é uma tendência natural das legendas que apostavam na reeleição do ex-governador José Roberto Arruda, agora se reunirem em torno de Joaquim Roriz?
Izalci - Eu acho que o natural seria formamos uma terceira via, uma alternativa. Mas isso deveria ter sido feito antes. Agora não dá mais tempo. Esta eleição será polarizada novamente.
A ampla aliança que elegeu o peemedebista Rogério Rosso a governador na eleição indireta não teria sido um primeiro passo para esta via alternativa?
Izalci - Esse era o desenho e a vontade do Filippelli. Quando ele patrocinou, ou ajudou a patrocinar, essa eleição, a intenção dele era o PMDB assumir o GDF e ele se candidatar ao governo em outubro. Mas o que a gente viu foi outra coisa. Ele não conseguiu manter os compromissos feitos com os partidos. Os partidos que o ajudaram não foram atendidos depois da eleição. E isso enfraqueceu muito a relação dele com essas legendas, o que acabou atrapalhando o surgimento desta outra via.
Como assim?
Izalci - O que aconteceu na prática na eleição? O Wilson Lima (presidente da Câmara, candidato derrotado do PR na eleição indireta) conduziu o processo eleitoral de forma muito técnica, naquela visão que ele tinha de evitar a intervenção. Mas, na prática, os deputados são muito pragmáticos. Ninguém acredita em promessas futuras.
No início da campanha de Wilson Lima, houve uma reunião na casa de (deputado distrital do PTB) Cristiano Araújo, e estávamos lá eu, Benício (Tavares, PMDB), Alírio (Neto, do PPS), Filippelli e o Cabo Patrício (PT).
Cabo Patrício?
Izalci – Sim. Quando a gente estava trabalhando no começo da campanha, a gente tinha a ideia de convidar o PT para compor a chapa, numa grande aliança por Brasília. Porque a gente sabia que se conseguisse isso ganharia a eleição e levaria o governo com tranqüilidade. Depois, quando já era Filippelli que estava em campanha, ele acabou adotando a mesma ideia. Neste dia, Cabo Patrício estava lá para discutir essa possibilidade de aliança.
Mas então Alírio precisou sair para um compromisso no Lago Sul. Lá ele encontrou Marcelo Toledo numa padaria e ele fez uma ameaça aberta aos distritais caso eles votassem no Wilson Lima (Toledo teria dito, em alto e bom som, que se os distritais elegessem Wilson Lima governador, ele, Toledo, denunciaria quanto custaram os votos de parlamentares na eleição do próprio Lima para presidente da Câmara, um mês antes).
Alírio contou a história para Benício. E o Filippelli estava lá. E a turma ficou meio assim… ficou todo mundo preocupado. Eu achei aquilo muito estranho, os caras ficaram muito diferentes. Então eu liguei para Wilson Lima e ele disse que não sabia nada daquilo. Mas a partir daí a história mudou. Ninguém falou mais nada comigo.
O senhor acha que a ameaça surtiu efeito?
Izalci - Não tenho dúvida. Foram vários fatores que fizeram a gente perder a eleição, não foi só esse. Mas talvez tenha sido esse o motivo para mudarem o candidato.
Aí o que aconteceu? Wilson começou a ficar inseguro. Mas continuou as conversas. E um dos artifícios que o Filippelli usou na campanha foi a questão do apoio de Roriz a Wilson Lima. Porque os deputados não queriam a participação de Roriz neste processo.
As coisas então começaram a ficar difíceis para o Wilson e ele estava muito preocupado com Aylton (Gomes, deputado distrital do PR). Eu disse a ele: “com Aylton você não se preocupe, eu vou conversar com ele”. Então fiquei incumbido de conversar com Aylton e eles irem para a Câmara já com tudo certo. No dia da eleição, houve uma reunião na casa do deputado federal Alberto Fraga, com Wilson, o PSDB e os democratas – que, aliás, são bem articulados. São quatro e cada um votou de um jeito (no dia da eleição, Paulo Roriz votou com Wilson Lima, Eliana Pedrosa votou com o candidato petista e Raad Massouh se absteve. O ex-democrata Geraldo Naves, que estava sendo contado como voto da bancada à época, votou com Rogério Rosso).
Bom, mas o Aylton não participou desta conversa. Mesmo assim, eu disse a ele que teria jeito. Ele era o primeiro voto e teria de votar em Wilson Lima. Eles (o grupo que apoiava o PMDB) já tinham até pensado numa estratégia para Aylton votar no final. Mas eu disse “negativo, você vai votar primeiro e vai ser no Wilson” (como presidente regional do PR, Izalci poderia dificultar a liberação da legenda para o deputado, caso ele se rebelasse).
Só que quando eles chegaram da casa do Fraga, a estratégia havia mudado. Eles discutiam votar no Luis Filipe (Coelho, candidato do PTB) no primeiro turno e, no segundo turno, votar no candidato do PT. Aí eu, que não tinha participado dessa discussão e não sabia dessa nova estratégia, foi tentar entender o que estava acontecendo. Quando eu vi que Wilson não ia mais ser candidato, avisei ao Aylton que ele estava liberado. E fui embora da Câmara. Quando eu estava no caminho para o Guará, Aylton me liga dizendo que Wilson tinha retomado a candidatura. Mas eu já o havia liberado e disse que ele poderia votar como quisesse.
Mas o deputado Aylton Gomes já estava fechado há alguns dias com o grupo que apoiou Rogério Rosso…
Izalci - Sim, o Aylton já tinha costurado o acordo com o PMDB, tanto que ele tinha viajado para Goiânia com o grupo (os eleitores de Rosso foram levados, de jatinho, para Goiânia na véspera da eleição, para que não houvesse mudanças de voto). Depois ele me disse que havia combinado com o PMDB que o PR manteria seu espaço dentro do governo. Quando o Wilson desistiu e eu o liberei para votar como quisesse, Aylton ligou para o Filippelli, para o Benício e para o Alírio, e perguntou se o acordo ainda estava de pé. “O Izalci está aqui liberando o voto”, avisou. E eles responderam que sim, estava tudo certo. O compromisso que eles assumiram com Aylton era de que não mexeriam na estrutura do PR no governo (o partido ocupava a Secretaria de Ciência e Tecnologia, da qual Izalci foi secretário até a desincompatibilização, e a Administração de Planaltina, a cargo de Aylton Gomes).
Depois, no dia seguinte, eu participei de um almoço promovido pelo Filippelli para os partidos que apoiaram o PMDB. Filippelli fez o compromisso de que Rosso iria governar com os partidos e não só com os deputados. Os partidos teriam espaço. Aqueles partidos que assinaram a Carta de Brasília – PMDB, PT, PPS, PDT, PR, PRB… Mas não foi o que aconteceu, ele não teve como honrar esse compromisso.
O Alírio, por exemplo, ganhou um espaço grande no governo, mas o PPS não. Tanto é que o partido ainda não decidiu se ele vai ser líder e se eles vão continuar apoiando o Rosso. Daí esse almoço foi no domingo e, na quinta, o PMDB rachou (quando se tornou pública a briga entre Rosso e Filippelli, já que o novo governador não atendia aos pedidos do presidente de seu partido).
Esse foi o episódio da eleição. Evidentemente que Wilson estava trabalhando com a perspectiva de ir para o Tribunal de Contas do DF, depois deu aquele problema na Justiça e a vaga acabou compensando a da Anilcéia (Machado, presidente do TCDF, que perdeu temporariamente a vaga no pleno por ter entrado num lugar que caberia ao Ministério Público. Anilcéia acabou garantindo o cargo na Justiça, mas para compensar o MP, a vaga aberta em abril foi entregue a eles).
Mas como está a situação do PR hoje no governo?
Izalci – Pois é, para minha surpresa houve várias modificações na Secretaria. Eu conversei com o governador Rogério Rosso e ele me garantiu que não havia mexido na pasta, que ela continuava com o PR. Quer dizer, o PR teria a secretaria, mas quem estava fazendo as nomeações era apenas o Aylton (nomes do segundo escalão da pasta foram substituídos por indicações diretas do parlamentar). Mas nós estamos tentando ajustar isso.
Sim, mas semana passada, Wilson Lima anunciou a formação de um bloco independente na Câmara Legislativa, confirmando que não está alinhado ao governo…
Izalci – Wilson Lima é presidente da Câmara Legislativa. Ainda tem um poder muito grande. E até a semana passada o governador ainda não o havia procurado. Mas eu tive uma conversa com o governador e acredito que ele deve buscar um entendimento com Wilson nos próximos dias. A tendência é a gente ir conversando mais e mais para tentar resolver essas coisas. Não dá mais para ficar perdendo tempo com isso, temos de nos preparar para a campanha.
BLOG DA PAOLA LIMA
0 comentários:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.